quinta-feira, 9 de junho de 2011

365 motivos para odiar Belém

          Adoro minha cidade. Contudo, mantenho com ela uma relação de amor e ódio. Considero improvável que qualquer criatura com um mínimo de bom senso fique indiferente à certas singularidades da nossa Belém do Pará.

Ver-o-peso: tradicional cartão postal de Belém.
     Por isso, convido todos a participar desta postagem, contribuindo com meu projetinho "365 motivos para odiar Belém", indicando motivos para odiar nossa amada terra natal. Mande o seu.
      Salve Belém.

1º motivo: A população da grande Belém ajudou a eleger um dos maiores corrúptos do país ao cargo de senador.

2º motivo: Ver-o-peso - nosso belíssimo cartão postal. Belíssimo? Só se for de noite!

3º motivo: Nosso atual prefeito. Sem comentários.

4º motivo: O trânsito de Belém. Impossível não se aborrecer com os motoristas "furando" o sinal e bloqueando a passagem dos veículos da transversal.

5º motivo: O autor deste blog, por ter conjecturado sobre o projeto "365 motivos para AMAR Belém". Imperdoável.

6º motivo: Belém gera uma das maiores audiências do país para o programa do Gugu. Ptzzz!!!

7º motivo: Os nativos e seus celulares tocando um popsom no volume máximo, dentro de coletivos e estabelecimentos fechados. O pior é que não são só os nativos - os boyzinhos são idênticos.

Mande o seu.

Luciano Simões

8º motivo: O PÉSSIMO serviço de energia elétrica. Como um dos estados que mais contribui pra manutenção da energia elétrica nacional pode ter A Celpa --Cara e péssima-- como distribuidora? (Danilo) 

9º motivo: Os idiotas que escutam música sem fone de ouvido nos ônibus de Belém. Mereciam espancamento em praça pública, no mínimo. Já não basta o trânsito infernal e ainda temos que ter um idiota compartilhando, além da má educação, o péssimo gosto musical... e mesmo que fosse bom, ainda seria errado fazer isso contra os outras passageiros.  (Orlando Jr.)

10º motivo: A péssima qualidade das calçadas, que quando não tem postes no meio são esburacadas e cheias de desníveis, dificultando a mobilização de idosos e impossibilitando a de deficientes. (Lord-Yosef Alivert)

11º motivo: Os péssimos motoristas de Belém, todos eles. De carros particulares aos motoristas de ônibus, taxistas, motoqueiros, ciclistas, skatistas... é uma legião de motoristas ruins que na maioria dos casos é difícil saber quem não comprou a carteira...(Orlando Jr.)

12º motivo: As obras da cidade, mas especificamente uma das piores, senão a pior, obra rodoviária de Belém: o Complexo do Entroncamento! (Aurora)  

13° motivo: Como Belém sendo uma capital, possuir apenas 2 prontos socorros que atende uma demanda muito grande da população daqui mesmo, e ainda do interior.Por isso tá do jeito que tá (Mauricio Moraes)

14º motivo: Não sou de Belém, mas realmente as calçadas são ruins. Tentei passear a pé pelo centro e foi complicado. Aquelas ruas estreitas já deveriam ser calçadões. Só pedestre, sem carros. (Marcelo Lemisk)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Salomão Habib

                   Apreciei pela primeira vez o trabalho do Salomão em uma apresentação para estudantes no auditório de uma escola de Belém. Foi fascínio a primeira vista. A maestria com que este artista combinou camadas sonoras eruditas e acordes populares foi irresistível. Conquistou-nos a todos.
Salomão Habib, violonista paraense.

                Assisti outras apresentações locais e acompanhei com interesse alguns dos seus trabalhos. Comecei a sonhar alto: será que eu poderia, um dia, ser aluno do Salomão? Ainda sonho.
                A última apresentação do mestre que tive a oportunidade de apreciar foi na ocasião do Primeiro Encontro Espírita do Pará, realizado em janeiro deste ano. Ao lado de outros grandes violonistas paraenses, tais como Nego Nelson e Sebastião Tapajós, Salomão Habib errebatou o público.
                Contudo, este blog é pequeno demais para falar do Salomão. Deixo como sugestão o link para visitar o blog do próprio mestre. Em uma das postagens encontramos o currículo invejável de apresentações nacionais e internacionais do artista.
Salve o mestre!


Luciano Simões

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um Mundo em Hipertexto

A primeira vez que assisti Minority Report (2002) fiquei deslumbrado com a possibilidade de, em um futuro próximo, podermos manipular textos virtuais, tal como faz a personagem John Anderton, interpretado por Tom Cruise no referido filme. Hoje estamos na fronteira dessa possibilidade. E o mais entusiasmante nesse processo é descobrir que ele foi impulsionado pela lógica dos games.
Minority Report (2002), filme de Steven Spielberg, baseado na obra de mesmo nome de Philip K. Dick.
 Segundo a professora e pesquisadora brasileira Lucia Santaella, compreender a revolução moderna do mundo do games é fundamental para entender como outras instâncias comunicativas e interativas aperfeiçoaram suas próprias lógicas. Acerca do crescimento do mercado dos games, Santaella explica:
Lúcia Santaella, uma das maiores intelectuais brasileiras no campo da Semiótica.
Para se ter uma idéia do papel que os jogos eletrônicos estão desempenhando na cultura humana deste início do terceiro milênio, basta dizer que a movimentação financeira de sua indústria é a primeira na área de entretenimento, superior à do cinema, e a terceira no mundo, perdendo apenas para a indústria bélica e a automobilística.

       (SANTAELLA, Lúcia. Games e comunidades virtuais. Em: http://www.canalcontemporaneo.art.br/tecnopoliticas/archives/000334.html)

Sobre a interatividade proporcionada pelos jogos eletrônicos, Santaella explica que, no mundo virtual do jogo existem diferentes níveis envolvimento: uns mais rasos e outros mais profundos. Em um nível mais profundo, explica a doutora, a interatividade não funciona “apenas como experiência ou agenciamento do interator, mas como possibilidade de co-criação de uma obra aberta e dinâmica, em que o jogo se reconstrói diferentemente a cada ato de jogar” (idem). Significa dizer que, em certo nível de interatividade, o jogo nos permite recriar possibilidades e realidades alternativas no próprio contexto no qual estamos inseridos.
É mais ou menos isso que Anderton faz diante dos hipertextos holográficos, em Minority Report – ou Tony Stark, em o Homem de Ferro. É uma lógica de jogo, manipulação cibernética, criação e co-criação.


Hipertexto

Vagando pelo Wikipédia, encontrei o seguinte conceito:

"Hipertexto é o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas denominadas hiperlinks, ou simplesmente links. Esses links ocorrem na forma de termos destacados no corpo de texto principal, ícones gráficos ou imagens e têm a função de interconectar os diversos conjuntos de informação, oferecendo acesso sob demanda as informações que estendem ou complementam o texto principal. O sistema de hipertexto mais conhecido atualmente é a World Wide Web, no entanto a Internet não é o único suporte onde este modelo de organização da informação e produção textual se manifesta." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipertexto)
       Contudo, a lógica que os computadores convencionais usam para “gerar” um hipertexto no “espaço” é notoriamente clássica, uma vez que um texto só pode ser visualizado quando outro estiver minimizado. Em outras palavras, ainda não é um super, hiper, mega hipertexto. Será, em definitivo, quando pudermos manipulá-lo, rasgá-lo, recriá-lo, contaminá-lo com nossa existência. Ou será assim, ou não será. E adivinha qual será o grande paradigma dessa revolução: O JOGO!

Luciano Simões

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Salvador Dali, o Surrealismo e... a Física!?

O Surrealismo foi um movimento artístico iniciado, ao que me parece, no ano de 1924, ocasião da publicação do texto Primeiro Manifesto Surrealista, de André Breton. Orientado pelas descobertas de Freud sobre o inconsciente, os surrealistas potencializaram um tipo de arte que extrapolava as manifestações artísticas usuais, recorrendo a imagens oníricas. Para quem já leu um mínimo acerca de psicanálise, sabe que os sonhos são uma espécie de válvula de escape para as estruturas psíquicas do inconsciente. Sentimentos, frustrações e desejos reprimidos encontram nos sonhos seu grande veículo de mobilidade.
Salvador Dali (1904 - 1989)
 No campo específico da pintura, destacou-se o espanhol Salvador Felipe Jacinto Dali que, mesmo no contexto da arte moderna – cubismo, futurismo e outros bichos –, conseguiu notoriedade explorando construções artísticas que distorcem o real. Daí o termo “surreal”, comumente usado quando se quer falar de algo muito, muito, muito diferente e claustrofóbico.
O Grande Masturbador (1929), óleo em tela. É notória a questão do erotismo inconsciente, influência da psicanálise.
A Persistência da Memória (1931), óleo em tela. Para o insconsciente, o tempo é maleável, condição aversa ao tempo frio e inexorável da física newtoniana. Um brinde para quem encontrar o nariz de Dali.
A Metamorfose de Narciso (1937), óleo em tela. Interprete se puder.
Natureza Morta-Viva (1957), óleo em tela. Dali desfigura certas leis da natureza - lei da gravidade, entropia. No movimento da água aparece um pequeno ciclone, alusão à razão áurea (ver vídeo indicado no blog)
 As obras que mais me chamam a atenção, enquanto estudante de física, são: A persistência da Memória e Natureza Morta-Viva. A primeira é, indubitavelmente, o trabalho mais conhecido de Dali. Não serei o último mortal da face da terra a associar as imagens oníricas do espanhol com a relatividade do tempo de Einstein. A idéia de um tempo distorcido e maleável lembra bastante as interpretações oriundas da Teoria da Relatividade. Enquanto na física newtoniana o tempo é tido como um ente absoluto e inexorável, cuja medida independe de quem observa o mundo, na Relatividade de Einstein o tempo é relativizável, dependendo do estado do observador. Daí a noção de maleabilidade do tempo presente nos relógios distorcidos.
Contudo, não me atreveria a dizer que Salvador Dali se inspirou diretamente na física de Einstein para compor a tela. Compreendendo o mínimo acerca do Surrealismo, prefiro embarcar com a maioria e sugerir que os relógios distorcidos figuram a atemporalidade da consciência: nos sonhos, a idéia de “passagem do tempo” parece não fazer muito sentido.
Quanto a Natureza Morta-Viva... A coisa já é diferente. É só reparar na citação de Dali extraída da bibliografia consultada*:

“Com o chifre do rinoceronte, energia máxima no mínimo espaço, frente ao espaço infinito do mar, o quadro resulta da cúspide de uma geometria (...) que permite a mim, a Dali, conhecer existencialmente a verdade do espaço-tempo.”

Para mim é indubitável a relação com a Teoria da Relatividade Geral – que versa sobre o espaço-tempo, termo caríssimo aos físicos modernos – e com a Entropia, teoria que versa sobre a relação entre a energia e o tempo (ver postagem sobre Sandman e a Entropia). Não me sinto capaz de interpretar Dali sem o auxílio de um texto profissional, mas compreendo que o quadro não é só um amontoado de figuras soltas, desprovidas de gravidade, mas um mosaico onírico que combina formas, organização, relação com o espaço, tempo, vida e organização biológica. Impagável!
Imaginemos, agora, que cada um de nós pudesse, assim como Dali, materializar parte dos seus desejos recônditos em óleos sobre telas: que formas fantasmagóricas, maldosas, sinistras e maledicentes não encontraríamos. Melhor mesmo é deixar certos monstros na escuridão do inconsciente.
 Física também é cultura... E o que é melhor: surreal.
O que você achou de Dali? Conheça mais sobre o mestre surrealista nos links a seguir e bons sonhos.

(*) – Coleção Gênios da Arte/Barueri, SP: Girassol; Madri: Susaeta Ediciones, 2007.

terça-feira, 12 de abril de 2011

ESCHER: A GEOMETRIA IMITA A ARTE

          Maurits Cornelis Escher (1898 - 1972) foi um artista holandês que ganhou notoriedade pela suas obras pouco convencionais. Seu estilo gráfico se caracteriza pelo aparente abuso das formas geométricas, criando paisagens distorcidas e cheias de ilusão de ótica. Vale a pena apreciar algumas imagens. Olhe com atenção, mas sem se preocupar em compreender.

Ascending and Descending

Belvedere


Sky and Water

Encounter

House of Stairs

Magic Mirror

          Pesquisando sobre Escher, descobri que o recente A Origem, estrelado por Leonardo DiCaprio, utilizou bastante dos jogos ilusórios do artista holandês na produção de efeitos especiais.

A Origem, 2010


           Descobri, também, que o clipe Around the World, do Daft Punk, foi inspirado na obra Encounter. Contudo, a minha descoberta predileta foi a influência de Escher nos games: a fase bônus do joguinho Sonic, The Hedgehog, da Sega, foi inspirada na obra Sky and Water. Muito massa!

Sonic, The Hedgehog - um clássico. Morra de inveja, Mário.
           
          Para finalizar, Daft Punk - Around the World.



segunda-feira, 4 de abril de 2011

Harry Potter, Gandalf e a viagem no tempo

          Afinal de contas, Harry pode voltar no tempo ou não? De acordo com a física formal, NÃO.
        Por uma perspectiva puramente científica, podemos estudar a questão do tempo por duas perspectivas diferentes: uma newtoniana e outra relativística. Newton entendia o tempo como um fluxo, um eterno vir a ser. O tempo, na hipótese de Newton, flui a nossa revelia e sua medida não é relativizável, ou seja, independe de quem vê.
          Por outro lado, de acordo com a Teoria da Relatividade Geral, o tempo é uma dimensão, tal como as três dimensões espaciais conhecidas por nós: largura, altura e profundidade. Na hipótese de Einstein, o tempo não flui. Ele simplesmente é. Não é fácil imaginar. Na verdade acho dificílimo, mas é como se o tempo fosse um bloco dimensional. O tempo não flui – somos nós que fluímos no tempo, pois ele já está posto para nós.
        A questão é que qualquer hipótese usada para explicar a essência da viagem no tempo esbarra em muitos paradoxos complexos. Imagine que Harry regressasse no tempo e jogasse uma pedrinha na cabeça de Hermione, fazendo-a desmaiar. Eis o primeiro paradoxo: É ela quem aciona o “vira-tempo”. Se Harry a atinge antes que ela possa usar a bruxaria - o que impediria a viagem temporal -, então como ele poderia ter voltado e a atingido se ele ainda não voltou?
        Outra questão problemática situa-se em torno da Entropia, conceito originado da 2ª Lei da Termodinâmica (vide postagem sobre SANDMAN). A Entropia mede a tendência que um sistema possui em inutilizar a energia. Dito de maneira romanceada, a Entropia é a guardiã do tempo, pois é ela quem orienta a seta da eternidade, obrigando a matéria e a energia ao imperativo de uma eterna mutação. Se Harry voltasse no tempo ele estaria destroçando a lei da Entropia, pois o jovem bruxo é feito de matéria e energia que, por sua vez, tende a degradação. Certo, mas o que impede Harry de continuar envelhecendo, mesmo regressando no tempo? Nada. A questão é que teríamos dois bruxos no mesmo tempo. Se Harry continuasse no passado ele veria a si próprio regressando várias e várias vezes. A natureza estaria criando e recriando matéria e energia no passado. E ainda pior. Recriando consciências que, probabilisticamente, poderiam interagir. Se essa interação forçasse o Harry do passado a reavaliar suas ações, em decorrência de ter encontrado o Harry do futuro, então o bruxo estaria mudando a si próprio, o que poderia – em princípio – fazer Harry desistir de voltar no tempo. Mas se ele não viajará mais no tempo, por ter se assustado com o Harry que veio do futuro, então como ele regressou? Retornamos ao mesmo paradoxo.

Cena do filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban
        Seja como for, o barato do tempo é que ele nos impõe algo de profundo: somos responsáveis por nossas escolhas. É somente diante da ameaça de não ter mais tempo é que nos impulsionamos diante da vida, nutrindo nossas existências com alegrias, emoções, experiências, vivências, dores, conquistas e toda sorte de coisas.
Cena do filme O Senhor dos Anéis: a sociedade do anel. No filme, o diálogo ocorre nas minas de Mória, enquanto que no livro, o diálogo acontece no Condado.
        Isso me fez lembrar de Gandalf, personagem de Tolkien, em O Senhor dos Anéis. Em certa parte do livro, o velho mago reflete com Frodo sobre a relação do tempo com nossas escolhas. É mais ou menos assim:

— Gostaria que isso não tivesse acontecido na minha época – disse Frodo.
— Eu também – disse Gandalf. Como todos os que vivem nesses tempos. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
        Acho interessante esse diálogo, pois seu conteúdo resgata muito das filosofias existencialistas da modernidade. Remete-nos ao fato de que somos condenados a fazer escolhas. E essa não é uma escolha.
        Ainda assim, podemos regressar no tempo, por meio da memória. Lembrar nossas escolhas passadas, rir, chorar, aprender com elas. Acho razoável pensar assim.
        Acabou meu tempo.

Luciano Simões

sábado, 2 de abril de 2011

A "Evolução" dos usuários da Internet

              Vasculhando a rede encontrei a charge abaixo e achei o conteúdo bastante curioso.
          A charge não mostra apenas a evolução da internet, mas a transformação do próprio usuário. A facilidade com que temos acesso às informações da web nos tornou viciados em dados. Parece que o importante é ter os dados, mesmo sem saber muito bem o que fazer com eles.
          Acessar as fotos ou os textos de qualquer zé ninguém se tornou algo banal, pois, na maioria das vezes, o próprio conteúdo postado é banal - fotos, textos estúpidos sobre grupos e redes sociais, vídeos com músicas de qualidade questionável, etc. Qual a graça nisso? Os mais vidrados na rede desenvolvem um ego tão grandiloquente que passam a acreditar piamente que todos os seus contatos dariam tudo para ver suas fotos comuns e iguais a milhões de outras postadas.
          A coisa é tão curiosa que fenômenos de rede como o MSN perderam bastante da sua magia. A maioria das pessoas que conheço entra do messenger por puro vício, mas sem a menor intenção de interagir com alguém. Eu, por exemplo, já faço a conexão no modo invisível, justamente para não me comprometer com uma conversa muito longa. Se vejo alguém interessante conectado, então passo para dar um alô. Depois imaginei o seguinte: se todos da minha lista pensam como eu, então jamais nos encontraremos conectados. Portanto, por que dispor dessa ferramente se não a utilizo?
          Gostaria de conhecer a opinião dos usuários e seguidores deste blog sobre os usos e desusos da Internet. Fala ai, brother!!

Luciano Simões

domingo, 20 de março de 2011

Harry Potter e os Paradoxos da viagem no tempo


A viagem no tempo sempre foi objeto de enorme fascínio nos filmes de ficção científica e literaturas do gênero. Filmes como De volta para o futuro e O Planeta dos macacos tornaram-se clássicos por explorar a viagem no tempo. A saga Harry Potter também explorou a idéia no filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, de 2004. Em certa parte do filme, Hermione manipula o tempo para que ela e seus amigos consigam cumprir parte de suas missões impostas pelo determinismo dos fatos.
Cena do filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban

Quero muito postar um texto sobre viagens no tempo, mas gostaria, também, de conhecer a opinião dos frequentadores desse blog sobre o tema. Você acha que é possível viajar no tempo? Você gostaria de fazê-lo? E se pudesse voltar, você alteraria algum fato inusitado de sua existência? Viajar no tempo e alterar a sequência das coisas não violaria o sagrado direito do Livre Arbítrio? Responde ai, vai! Temos tempo.

Luciano Simões

domingo, 13 de março de 2011

SANDMAN E AS LEIS DA TERMODINÂMICA

         O escritor e roteirista de histórias em quadrinhos, Neil Gaiman, se notabilizou no mundo das HQs na década de 1980, com a publicação de Sandman, a saga do senhor dos sonhos. Referência notória a Morpheus, o deus dos sonhos da mitologia grega, Sandman se tornou uma espécie clássico Cult para milhares de jovens e marmanjos do mundo todo.

            A primeira saga publicada - que eu tenha conhecimento - foi Prelúdios e Noturnos, na qual Morpheus é acidentalmente capturado em um ritual de magia. Aprisionado no mundo dos mortais por muitas décadas, o senhor dos sonhos têm seus pertences - uma algibeira, um amuleto e uma espécie de elmo - apreendidos pelos captores.















           Um belo dia, porém, Morpheus se liberta e, após amaldiçoar seus algozes, sai em busca dos seus objetos místicos. A algibeira com o pó do sono, ele encontra com a ajuda do bruxo inglês Constantine; o elmo, ele encontrará no inferno. Muito massa!
           Até ai, tudo bem. Nada de surpreendente na trama: mortes, magia, o inferno, o deus dos sonhos. Beleza! Porém, o que chama atenção na história é a forma magistral com que Gaiman insere na fala das personagens duas importantes leis da física: a 1ª lei da termodinâmica, desdobramento do princípio da conservação da energia, e a 2ª lei da termodinâmica.

            Morpheus descobre que o elmo está em posse de um dos demônios do inferno. Após um diálogo cordial com Lúcifer, fica acertado entre os semideuses que a posse do elmo será decidida por meio de um duelo "filosófico", ilustrado nas figuras do texto.

             Note que cada lance do embate implica no aumento da complexidade do passo seguinte. Quem não conhece patavina de física elementar fica "flutuando" no contexto da história.
           De acordo com a 1ª lei, a energia disponível em um processo jamais é destruída, conservando-se em outras modalidades. Outro fato pressuposto pela referida lei refere-se ao sentido da transformação: segundo a 1ª lei, os processos naturais são reversíveis, podendo certa forma de energia evoluir ou "retroceder" no tempo.
       
          A seu turno, a 2ª lei policia o comportamento desenfreado da 1ª lei, restringindo-lhe o sentido. O pressuposto essencial desta lei é que certa modalidade de energia só pode se propagar, espontaneamente, para uma forma mais desorganizada de energia. Tipo eletricidade ou energia mecânica se transformar em calor.
            Dito de outra forma, a 2ª lei estabelece que em qualquer processo físico ocorrido no mundo dos mortais, seres miseráveis da criação, a energia tende sempre a seguir no sentido da degradação, transformando-se em calor. Essa tendência é conhecida como Entropia, grandeza que mede o grau de desordem de um sistema.
          Assumindo que qualquer processo natural só pode ocorrer mediante dispêndio de energia, conclui-se que todo o universo tende ao seu máximo grau de desordem. Nada escapa à lei da Entropia: a vida, as cores, a beleza, as músicas de mau gosto, o Big Brother, tudo.
  

                   Analisando os diálogos, notaremos que Sandman esforça-se em fazer o movimento guiado pela 1ª lei, partindo da desordem de volta à ordem; o demônio, a seu turno, faz o movimento guiado pela 2ª lei, impulsionando a realidade para o seu fim natural.

 



           Reparem agora no contra-ataque intelectual desferido pelo inveterado demônio contra Morpheus: xeque-mate?



            Sendo a Entropia uma tendência natural, nada poderia detê-la. Nem mesmo Deus, uma vez que as leis naturais são expressão da perfeição do divino e, portanto, irrevogáveis. Fiquei maravilhado com a sacada do Sr. Gaiman. Mais maravilhado ainda, fiquei com a resposta do senhor dos sonhos:


            Perfeito. O que poderia ser mais poderoso e demasiadamente humano que a esperança? Não é esse sentimento que nos faz seguir em frente, burlando, incondicionalmente, o que é lógico e racional? Não foi esse o sentimento que impulsionou o menino robô do filme IA - Inteligência Artificial a ir até o seu limite?
            O resto é história: Morpheus humilha Lúcifer (diálogo muito interessante e altamente filosófico), abandona o inferno e vai em busca do último pertence. Vale a pena conferir a historinha toda. Boa leitura aos interessados e bons sonhos.

Luciano Simões

domingo, 6 de março de 2011

FÍSICA INÚTIL


     Fico me questionando, quando estou em sala de aula, qual a utilidade do meu trabalho enquanto professor de física. Sinto-me, mais das vezes, como mero informador. Informo para o vestibular; informo para a conclusão do ano letivo, que desaguará nos concursos de vestibular; informo para garantir o processo formal de educação que - adivinhe - atingirá seu clímax nos processos seletivos do vestibular.

     Qual a utilidade dos conteúdos que ministro? O que um jovem, que almeja uma vaga no curso de sociologia, fará com o cálculo do campo elétrico gerado por uma carga pontual? Ou o que uma pedagoga fará com a equação de Gauss para os espelhos esféricos? Estudantes que anseiam por uma vaga no curso de engenharia ou física, indubitavelmente, se utilizarão de muitos fundamentos estudados em sala de aula. Mesmo assim, o conteúdo em si mesmo pouco significou, aparentemente, para aguçar o senso crítico desses estudantes.

     Outro fato que acho curioso em minha rotina como professor é que nas poucas vezes que o sistema me permite fugir das amarras do desenho curricular formal, os próprios estudantes reagem de maneira defensiva. Uns não dão atenção, enquanto outros acham estúpido. Existe até aqueles que pensam: "é coisa de doido", "o professor está viajando". Discutir sobre como a física de Newton influenciou nossa economia - e continua a influenciar por meio da Econofísica - ou como a física de Einstein influenciou a cultura mundial, mostrando que matéria e energia são manifestações diferentes da mesma realidade é um esforço ousado e quase sempre infrutífero. Claro que alguns se salvam. Já tive estudantes que escreveram artigos para jornais, baseando-se em conteúdos que aprenderam em aulas de física.

     O que motiva esse comportamento?

     Questão por demais complexa que vai desde a mentalidade das famílias, que alimentam a indústria da educação voltada para o concurso, passando pelo professor despreparado e pela escola sem identidade, até chegar aos mais altos escalões do poder. Estruturas complexas decidem como devemos formar nossos estudantes, a fim de atender as necessidades sempre urgentes do mercado.

     O fato é que nossos estudantes não possuem um espaço para exercitar seus poderes críticos. Nós, professores, não os acostumamos a refletir filosoficamente sobre o que estudam. Até as aulas de filosofia, muitas vezes, se limitam a recontar a história da filosofia. Com efeito, encarar a física de Einstein sob um olhar crítico será o mesmo que aplicar a cinemática à reprodução dos ornitorrincos: inútil.
     E vamos ao novo vestibular, agora disfarçado de ENEM!

Luciano Simões