segunda-feira, 4 de abril de 2011

Harry Potter, Gandalf e a viagem no tempo

          Afinal de contas, Harry pode voltar no tempo ou não? De acordo com a física formal, NÃO.
        Por uma perspectiva puramente científica, podemos estudar a questão do tempo por duas perspectivas diferentes: uma newtoniana e outra relativística. Newton entendia o tempo como um fluxo, um eterno vir a ser. O tempo, na hipótese de Newton, flui a nossa revelia e sua medida não é relativizável, ou seja, independe de quem vê.
          Por outro lado, de acordo com a Teoria da Relatividade Geral, o tempo é uma dimensão, tal como as três dimensões espaciais conhecidas por nós: largura, altura e profundidade. Na hipótese de Einstein, o tempo não flui. Ele simplesmente é. Não é fácil imaginar. Na verdade acho dificílimo, mas é como se o tempo fosse um bloco dimensional. O tempo não flui – somos nós que fluímos no tempo, pois ele já está posto para nós.
        A questão é que qualquer hipótese usada para explicar a essência da viagem no tempo esbarra em muitos paradoxos complexos. Imagine que Harry regressasse no tempo e jogasse uma pedrinha na cabeça de Hermione, fazendo-a desmaiar. Eis o primeiro paradoxo: É ela quem aciona o “vira-tempo”. Se Harry a atinge antes que ela possa usar a bruxaria - o que impediria a viagem temporal -, então como ele poderia ter voltado e a atingido se ele ainda não voltou?
        Outra questão problemática situa-se em torno da Entropia, conceito originado da 2ª Lei da Termodinâmica (vide postagem sobre SANDMAN). A Entropia mede a tendência que um sistema possui em inutilizar a energia. Dito de maneira romanceada, a Entropia é a guardiã do tempo, pois é ela quem orienta a seta da eternidade, obrigando a matéria e a energia ao imperativo de uma eterna mutação. Se Harry voltasse no tempo ele estaria destroçando a lei da Entropia, pois o jovem bruxo é feito de matéria e energia que, por sua vez, tende a degradação. Certo, mas o que impede Harry de continuar envelhecendo, mesmo regressando no tempo? Nada. A questão é que teríamos dois bruxos no mesmo tempo. Se Harry continuasse no passado ele veria a si próprio regressando várias e várias vezes. A natureza estaria criando e recriando matéria e energia no passado. E ainda pior. Recriando consciências que, probabilisticamente, poderiam interagir. Se essa interação forçasse o Harry do passado a reavaliar suas ações, em decorrência de ter encontrado o Harry do futuro, então o bruxo estaria mudando a si próprio, o que poderia – em princípio – fazer Harry desistir de voltar no tempo. Mas se ele não viajará mais no tempo, por ter se assustado com o Harry que veio do futuro, então como ele regressou? Retornamos ao mesmo paradoxo.

Cena do filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban
        Seja como for, o barato do tempo é que ele nos impõe algo de profundo: somos responsáveis por nossas escolhas. É somente diante da ameaça de não ter mais tempo é que nos impulsionamos diante da vida, nutrindo nossas existências com alegrias, emoções, experiências, vivências, dores, conquistas e toda sorte de coisas.
Cena do filme O Senhor dos Anéis: a sociedade do anel. No filme, o diálogo ocorre nas minas de Mória, enquanto que no livro, o diálogo acontece no Condado.
        Isso me fez lembrar de Gandalf, personagem de Tolkien, em O Senhor dos Anéis. Em certa parte do livro, o velho mago reflete com Frodo sobre a relação do tempo com nossas escolhas. É mais ou menos assim:

— Gostaria que isso não tivesse acontecido na minha época – disse Frodo.
— Eu também – disse Gandalf. Como todos os que vivem nesses tempos. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
        Acho interessante esse diálogo, pois seu conteúdo resgata muito das filosofias existencialistas da modernidade. Remete-nos ao fato de que somos condenados a fazer escolhas. E essa não é uma escolha.
        Ainda assim, podemos regressar no tempo, por meio da memória. Lembrar nossas escolhas passadas, rir, chorar, aprender com elas. Acho razoável pensar assim.
        Acabou meu tempo.

Luciano Simões

4 comentários:

  1. Realmente, os paradoxos temporais limitam muito a visão sobre viagens no tempo(ao passado). Por outro lado, se pensarmos de maneira mais simples talves seja mais fácil de entender que, (no caso de Harry Potter) eles so voltaram no tempo pois aqueles fatos exatos ocorreram da daquela forma e não de outro jeito. O que abre as portas pra infinitas realidades alternativas, mas esse assunto e muito longo e eu estou meio sem tempo

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  2. É mais ou menos por ai, Lord. Mas você tocou em algo mais interessante: realidades alternativas. Os físicos não sabem dizer o que é o tempo. E entendem que não faz sentido regressar por ele. O mais coerente, talvez, seria viajar nas possibilidades ou em realidades alternativas, mas nunca no tempo. Bacana.

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  3. tio lu, viajei legal! li, reli e continuo lendo para pode entender! essa foi pesada! risos!
    abraços, seu blog está demais!

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  4. RSRSRSRS!! Podemos conversar com calma sobre esse troço de viagem no tempo. Tu vais achar simples. Abração, filhão.

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