domingo, 20 de março de 2011

Harry Potter e os Paradoxos da viagem no tempo


A viagem no tempo sempre foi objeto de enorme fascínio nos filmes de ficção científica e literaturas do gênero. Filmes como De volta para o futuro e O Planeta dos macacos tornaram-se clássicos por explorar a viagem no tempo. A saga Harry Potter também explorou a idéia no filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, de 2004. Em certa parte do filme, Hermione manipula o tempo para que ela e seus amigos consigam cumprir parte de suas missões impostas pelo determinismo dos fatos.
Cena do filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban

Quero muito postar um texto sobre viagens no tempo, mas gostaria, também, de conhecer a opinião dos frequentadores desse blog sobre o tema. Você acha que é possível viajar no tempo? Você gostaria de fazê-lo? E se pudesse voltar, você alteraria algum fato inusitado de sua existência? Viajar no tempo e alterar a sequência das coisas não violaria o sagrado direito do Livre Arbítrio? Responde ai, vai! Temos tempo.

Luciano Simões

domingo, 13 de março de 2011

SANDMAN E AS LEIS DA TERMODINÂMICA

         O escritor e roteirista de histórias em quadrinhos, Neil Gaiman, se notabilizou no mundo das HQs na década de 1980, com a publicação de Sandman, a saga do senhor dos sonhos. Referência notória a Morpheus, o deus dos sonhos da mitologia grega, Sandman se tornou uma espécie clássico Cult para milhares de jovens e marmanjos do mundo todo.

            A primeira saga publicada - que eu tenha conhecimento - foi Prelúdios e Noturnos, na qual Morpheus é acidentalmente capturado em um ritual de magia. Aprisionado no mundo dos mortais por muitas décadas, o senhor dos sonhos têm seus pertences - uma algibeira, um amuleto e uma espécie de elmo - apreendidos pelos captores.















           Um belo dia, porém, Morpheus se liberta e, após amaldiçoar seus algozes, sai em busca dos seus objetos místicos. A algibeira com o pó do sono, ele encontra com a ajuda do bruxo inglês Constantine; o elmo, ele encontrará no inferno. Muito massa!
           Até ai, tudo bem. Nada de surpreendente na trama: mortes, magia, o inferno, o deus dos sonhos. Beleza! Porém, o que chama atenção na história é a forma magistral com que Gaiman insere na fala das personagens duas importantes leis da física: a 1ª lei da termodinâmica, desdobramento do princípio da conservação da energia, e a 2ª lei da termodinâmica.

            Morpheus descobre que o elmo está em posse de um dos demônios do inferno. Após um diálogo cordial com Lúcifer, fica acertado entre os semideuses que a posse do elmo será decidida por meio de um duelo "filosófico", ilustrado nas figuras do texto.

             Note que cada lance do embate implica no aumento da complexidade do passo seguinte. Quem não conhece patavina de física elementar fica "flutuando" no contexto da história.
           De acordo com a 1ª lei, a energia disponível em um processo jamais é destruída, conservando-se em outras modalidades. Outro fato pressuposto pela referida lei refere-se ao sentido da transformação: segundo a 1ª lei, os processos naturais são reversíveis, podendo certa forma de energia evoluir ou "retroceder" no tempo.
       
          A seu turno, a 2ª lei policia o comportamento desenfreado da 1ª lei, restringindo-lhe o sentido. O pressuposto essencial desta lei é que certa modalidade de energia só pode se propagar, espontaneamente, para uma forma mais desorganizada de energia. Tipo eletricidade ou energia mecânica se transformar em calor.
            Dito de outra forma, a 2ª lei estabelece que em qualquer processo físico ocorrido no mundo dos mortais, seres miseráveis da criação, a energia tende sempre a seguir no sentido da degradação, transformando-se em calor. Essa tendência é conhecida como Entropia, grandeza que mede o grau de desordem de um sistema.
          Assumindo que qualquer processo natural só pode ocorrer mediante dispêndio de energia, conclui-se que todo o universo tende ao seu máximo grau de desordem. Nada escapa à lei da Entropia: a vida, as cores, a beleza, as músicas de mau gosto, o Big Brother, tudo.
  

                   Analisando os diálogos, notaremos que Sandman esforça-se em fazer o movimento guiado pela 1ª lei, partindo da desordem de volta à ordem; o demônio, a seu turno, faz o movimento guiado pela 2ª lei, impulsionando a realidade para o seu fim natural.

 



           Reparem agora no contra-ataque intelectual desferido pelo inveterado demônio contra Morpheus: xeque-mate?



            Sendo a Entropia uma tendência natural, nada poderia detê-la. Nem mesmo Deus, uma vez que as leis naturais são expressão da perfeição do divino e, portanto, irrevogáveis. Fiquei maravilhado com a sacada do Sr. Gaiman. Mais maravilhado ainda, fiquei com a resposta do senhor dos sonhos:


            Perfeito. O que poderia ser mais poderoso e demasiadamente humano que a esperança? Não é esse sentimento que nos faz seguir em frente, burlando, incondicionalmente, o que é lógico e racional? Não foi esse o sentimento que impulsionou o menino robô do filme IA - Inteligência Artificial a ir até o seu limite?
            O resto é história: Morpheus humilha Lúcifer (diálogo muito interessante e altamente filosófico), abandona o inferno e vai em busca do último pertence. Vale a pena conferir a historinha toda. Boa leitura aos interessados e bons sonhos.

Luciano Simões

domingo, 6 de março de 2011

FÍSICA INÚTIL


     Fico me questionando, quando estou em sala de aula, qual a utilidade do meu trabalho enquanto professor de física. Sinto-me, mais das vezes, como mero informador. Informo para o vestibular; informo para a conclusão do ano letivo, que desaguará nos concursos de vestibular; informo para garantir o processo formal de educação que - adivinhe - atingirá seu clímax nos processos seletivos do vestibular.

     Qual a utilidade dos conteúdos que ministro? O que um jovem, que almeja uma vaga no curso de sociologia, fará com o cálculo do campo elétrico gerado por uma carga pontual? Ou o que uma pedagoga fará com a equação de Gauss para os espelhos esféricos? Estudantes que anseiam por uma vaga no curso de engenharia ou física, indubitavelmente, se utilizarão de muitos fundamentos estudados em sala de aula. Mesmo assim, o conteúdo em si mesmo pouco significou, aparentemente, para aguçar o senso crítico desses estudantes.

     Outro fato que acho curioso em minha rotina como professor é que nas poucas vezes que o sistema me permite fugir das amarras do desenho curricular formal, os próprios estudantes reagem de maneira defensiva. Uns não dão atenção, enquanto outros acham estúpido. Existe até aqueles que pensam: "é coisa de doido", "o professor está viajando". Discutir sobre como a física de Newton influenciou nossa economia - e continua a influenciar por meio da Econofísica - ou como a física de Einstein influenciou a cultura mundial, mostrando que matéria e energia são manifestações diferentes da mesma realidade é um esforço ousado e quase sempre infrutífero. Claro que alguns se salvam. Já tive estudantes que escreveram artigos para jornais, baseando-se em conteúdos que aprenderam em aulas de física.

     O que motiva esse comportamento?

     Questão por demais complexa que vai desde a mentalidade das famílias, que alimentam a indústria da educação voltada para o concurso, passando pelo professor despreparado e pela escola sem identidade, até chegar aos mais altos escalões do poder. Estruturas complexas decidem como devemos formar nossos estudantes, a fim de atender as necessidades sempre urgentes do mercado.

     O fato é que nossos estudantes não possuem um espaço para exercitar seus poderes críticos. Nós, professores, não os acostumamos a refletir filosoficamente sobre o que estudam. Até as aulas de filosofia, muitas vezes, se limitam a recontar a história da filosofia. Com efeito, encarar a física de Einstein sob um olhar crítico será o mesmo que aplicar a cinemática à reprodução dos ornitorrincos: inútil.
     E vamos ao novo vestibular, agora disfarçado de ENEM!

Luciano Simões