quinta-feira, 21 de abril de 2011

Salvador Dali, o Surrealismo e... a Física!?

O Surrealismo foi um movimento artístico iniciado, ao que me parece, no ano de 1924, ocasião da publicação do texto Primeiro Manifesto Surrealista, de André Breton. Orientado pelas descobertas de Freud sobre o inconsciente, os surrealistas potencializaram um tipo de arte que extrapolava as manifestações artísticas usuais, recorrendo a imagens oníricas. Para quem já leu um mínimo acerca de psicanálise, sabe que os sonhos são uma espécie de válvula de escape para as estruturas psíquicas do inconsciente. Sentimentos, frustrações e desejos reprimidos encontram nos sonhos seu grande veículo de mobilidade.
Salvador Dali (1904 - 1989)
 No campo específico da pintura, destacou-se o espanhol Salvador Felipe Jacinto Dali que, mesmo no contexto da arte moderna – cubismo, futurismo e outros bichos –, conseguiu notoriedade explorando construções artísticas que distorcem o real. Daí o termo “surreal”, comumente usado quando se quer falar de algo muito, muito, muito diferente e claustrofóbico.
O Grande Masturbador (1929), óleo em tela. É notória a questão do erotismo inconsciente, influência da psicanálise.
A Persistência da Memória (1931), óleo em tela. Para o insconsciente, o tempo é maleável, condição aversa ao tempo frio e inexorável da física newtoniana. Um brinde para quem encontrar o nariz de Dali.
A Metamorfose de Narciso (1937), óleo em tela. Interprete se puder.
Natureza Morta-Viva (1957), óleo em tela. Dali desfigura certas leis da natureza - lei da gravidade, entropia. No movimento da água aparece um pequeno ciclone, alusão à razão áurea (ver vídeo indicado no blog)
 As obras que mais me chamam a atenção, enquanto estudante de física, são: A persistência da Memória e Natureza Morta-Viva. A primeira é, indubitavelmente, o trabalho mais conhecido de Dali. Não serei o último mortal da face da terra a associar as imagens oníricas do espanhol com a relatividade do tempo de Einstein. A idéia de um tempo distorcido e maleável lembra bastante as interpretações oriundas da Teoria da Relatividade. Enquanto na física newtoniana o tempo é tido como um ente absoluto e inexorável, cuja medida independe de quem observa o mundo, na Relatividade de Einstein o tempo é relativizável, dependendo do estado do observador. Daí a noção de maleabilidade do tempo presente nos relógios distorcidos.
Contudo, não me atreveria a dizer que Salvador Dali se inspirou diretamente na física de Einstein para compor a tela. Compreendendo o mínimo acerca do Surrealismo, prefiro embarcar com a maioria e sugerir que os relógios distorcidos figuram a atemporalidade da consciência: nos sonhos, a idéia de “passagem do tempo” parece não fazer muito sentido.
Quanto a Natureza Morta-Viva... A coisa já é diferente. É só reparar na citação de Dali extraída da bibliografia consultada*:

“Com o chifre do rinoceronte, energia máxima no mínimo espaço, frente ao espaço infinito do mar, o quadro resulta da cúspide de uma geometria (...) que permite a mim, a Dali, conhecer existencialmente a verdade do espaço-tempo.”

Para mim é indubitável a relação com a Teoria da Relatividade Geral – que versa sobre o espaço-tempo, termo caríssimo aos físicos modernos – e com a Entropia, teoria que versa sobre a relação entre a energia e o tempo (ver postagem sobre Sandman e a Entropia). Não me sinto capaz de interpretar Dali sem o auxílio de um texto profissional, mas compreendo que o quadro não é só um amontoado de figuras soltas, desprovidas de gravidade, mas um mosaico onírico que combina formas, organização, relação com o espaço, tempo, vida e organização biológica. Impagável!
Imaginemos, agora, que cada um de nós pudesse, assim como Dali, materializar parte dos seus desejos recônditos em óleos sobre telas: que formas fantasmagóricas, maldosas, sinistras e maledicentes não encontraríamos. Melhor mesmo é deixar certos monstros na escuridão do inconsciente.
 Física também é cultura... E o que é melhor: surreal.
O que você achou de Dali? Conheça mais sobre o mestre surrealista nos links a seguir e bons sonhos.

(*) – Coleção Gênios da Arte/Barueri, SP: Girassol; Madri: Susaeta Ediciones, 2007.

terça-feira, 12 de abril de 2011

ESCHER: A GEOMETRIA IMITA A ARTE

          Maurits Cornelis Escher (1898 - 1972) foi um artista holandês que ganhou notoriedade pela suas obras pouco convencionais. Seu estilo gráfico se caracteriza pelo aparente abuso das formas geométricas, criando paisagens distorcidas e cheias de ilusão de ótica. Vale a pena apreciar algumas imagens. Olhe com atenção, mas sem se preocupar em compreender.

Ascending and Descending

Belvedere


Sky and Water

Encounter

House of Stairs

Magic Mirror

          Pesquisando sobre Escher, descobri que o recente A Origem, estrelado por Leonardo DiCaprio, utilizou bastante dos jogos ilusórios do artista holandês na produção de efeitos especiais.

A Origem, 2010


           Descobri, também, que o clipe Around the World, do Daft Punk, foi inspirado na obra Encounter. Contudo, a minha descoberta predileta foi a influência de Escher nos games: a fase bônus do joguinho Sonic, The Hedgehog, da Sega, foi inspirada na obra Sky and Water. Muito massa!

Sonic, The Hedgehog - um clássico. Morra de inveja, Mário.
           
          Para finalizar, Daft Punk - Around the World.



segunda-feira, 4 de abril de 2011

Harry Potter, Gandalf e a viagem no tempo

          Afinal de contas, Harry pode voltar no tempo ou não? De acordo com a física formal, NÃO.
        Por uma perspectiva puramente científica, podemos estudar a questão do tempo por duas perspectivas diferentes: uma newtoniana e outra relativística. Newton entendia o tempo como um fluxo, um eterno vir a ser. O tempo, na hipótese de Newton, flui a nossa revelia e sua medida não é relativizável, ou seja, independe de quem vê.
          Por outro lado, de acordo com a Teoria da Relatividade Geral, o tempo é uma dimensão, tal como as três dimensões espaciais conhecidas por nós: largura, altura e profundidade. Na hipótese de Einstein, o tempo não flui. Ele simplesmente é. Não é fácil imaginar. Na verdade acho dificílimo, mas é como se o tempo fosse um bloco dimensional. O tempo não flui – somos nós que fluímos no tempo, pois ele já está posto para nós.
        A questão é que qualquer hipótese usada para explicar a essência da viagem no tempo esbarra em muitos paradoxos complexos. Imagine que Harry regressasse no tempo e jogasse uma pedrinha na cabeça de Hermione, fazendo-a desmaiar. Eis o primeiro paradoxo: É ela quem aciona o “vira-tempo”. Se Harry a atinge antes que ela possa usar a bruxaria - o que impediria a viagem temporal -, então como ele poderia ter voltado e a atingido se ele ainda não voltou?
        Outra questão problemática situa-se em torno da Entropia, conceito originado da 2ª Lei da Termodinâmica (vide postagem sobre SANDMAN). A Entropia mede a tendência que um sistema possui em inutilizar a energia. Dito de maneira romanceada, a Entropia é a guardiã do tempo, pois é ela quem orienta a seta da eternidade, obrigando a matéria e a energia ao imperativo de uma eterna mutação. Se Harry voltasse no tempo ele estaria destroçando a lei da Entropia, pois o jovem bruxo é feito de matéria e energia que, por sua vez, tende a degradação. Certo, mas o que impede Harry de continuar envelhecendo, mesmo regressando no tempo? Nada. A questão é que teríamos dois bruxos no mesmo tempo. Se Harry continuasse no passado ele veria a si próprio regressando várias e várias vezes. A natureza estaria criando e recriando matéria e energia no passado. E ainda pior. Recriando consciências que, probabilisticamente, poderiam interagir. Se essa interação forçasse o Harry do passado a reavaliar suas ações, em decorrência de ter encontrado o Harry do futuro, então o bruxo estaria mudando a si próprio, o que poderia – em princípio – fazer Harry desistir de voltar no tempo. Mas se ele não viajará mais no tempo, por ter se assustado com o Harry que veio do futuro, então como ele regressou? Retornamos ao mesmo paradoxo.

Cena do filme Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban
        Seja como for, o barato do tempo é que ele nos impõe algo de profundo: somos responsáveis por nossas escolhas. É somente diante da ameaça de não ter mais tempo é que nos impulsionamos diante da vida, nutrindo nossas existências com alegrias, emoções, experiências, vivências, dores, conquistas e toda sorte de coisas.
Cena do filme O Senhor dos Anéis: a sociedade do anel. No filme, o diálogo ocorre nas minas de Mória, enquanto que no livro, o diálogo acontece no Condado.
        Isso me fez lembrar de Gandalf, personagem de Tolkien, em O Senhor dos Anéis. Em certa parte do livro, o velho mago reflete com Frodo sobre a relação do tempo com nossas escolhas. É mais ou menos assim:

— Gostaria que isso não tivesse acontecido na minha época – disse Frodo.
— Eu também – disse Gandalf. Como todos os que vivem nesses tempos. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
        Acho interessante esse diálogo, pois seu conteúdo resgata muito das filosofias existencialistas da modernidade. Remete-nos ao fato de que somos condenados a fazer escolhas. E essa não é uma escolha.
        Ainda assim, podemos regressar no tempo, por meio da memória. Lembrar nossas escolhas passadas, rir, chorar, aprender com elas. Acho razoável pensar assim.
        Acabou meu tempo.

Luciano Simões

sábado, 2 de abril de 2011

A "Evolução" dos usuários da Internet

              Vasculhando a rede encontrei a charge abaixo e achei o conteúdo bastante curioso.
          A charge não mostra apenas a evolução da internet, mas a transformação do próprio usuário. A facilidade com que temos acesso às informações da web nos tornou viciados em dados. Parece que o importante é ter os dados, mesmo sem saber muito bem o que fazer com eles.
          Acessar as fotos ou os textos de qualquer zé ninguém se tornou algo banal, pois, na maioria das vezes, o próprio conteúdo postado é banal - fotos, textos estúpidos sobre grupos e redes sociais, vídeos com músicas de qualidade questionável, etc. Qual a graça nisso? Os mais vidrados na rede desenvolvem um ego tão grandiloquente que passam a acreditar piamente que todos os seus contatos dariam tudo para ver suas fotos comuns e iguais a milhões de outras postadas.
          A coisa é tão curiosa que fenômenos de rede como o MSN perderam bastante da sua magia. A maioria das pessoas que conheço entra do messenger por puro vício, mas sem a menor intenção de interagir com alguém. Eu, por exemplo, já faço a conexão no modo invisível, justamente para não me comprometer com uma conversa muito longa. Se vejo alguém interessante conectado, então passo para dar um alô. Depois imaginei o seguinte: se todos da minha lista pensam como eu, então jamais nos encontraremos conectados. Portanto, por que dispor dessa ferramente se não a utilizo?
          Gostaria de conhecer a opinião dos usuários e seguidores deste blog sobre os usos e desusos da Internet. Fala ai, brother!!

Luciano Simões